
Introdução
Na Bíblia, há relatos históricos de mais de duas mulheres corajosas. No entanto, a história dessas duas mulheres é particularmente incomum, pois não eram israelitas, mas uma era cananeia e a outra, moabita. O mais surpreendente é que essas duas mulheres faziam parte da árvore genealógica que levou ao Rei Davi e, mais tarde, ao homem Jesus Cristo. Esses dois relatos históricos ilustram perfeitamente o que o apóstolo Pedro disse pouco antes do batismo de Cornélio, um centurião romano, um não judeu: « Em vista disso, Pedro começou a falar; ele disse: “Agora eu entendo claramente que Deus não é parcial, mas, em toda nação, ele aceita aquele que o teme e faz o que é direito’ » (Atos 10:34).
Meditação no livro de Rute
O período histórico deste livro está no início da governança dos juízes em Israel, ou seja, no final do século X AEC (Antes Era Comum) (ver o livro bíblico dos Juízes). Este livro bíblico contém um relato histórico muito emocionante baseado numa parte dramática da vida de Rute, viúva dum dos dois filhos de Noemi que morreram prematuramente (Orpa era sua segunda nora, viúva do segundo filho falecido). Naomi também era viúva de Elimeleque. O capítulo 1 resume bem a estrutura histórica desta relato, que terá uma conclusão feliz. Esta meditação revisitará as qualidades de Naomi, Rute e Boaz. Em relação à Rute, sua qualidade importante era sua lealdade a Noemi quando a situação parecia particularmente sombria para aquelas duas mulheres. Obviamente, podemos mencionar o apego de Rute ao Pai Celestial Jeová Deus. Essa reflexão também mostrará que este livro tem não apenas um valor anedótico, mas também com a futura vinda do Messias (na época da história), em seu aspecto cronológico. De fato, Elimeque e Naomi eram de Belém Efrata de Judá, mencionado na profecia relacionada ao lugar de nascimento da criança Jesus, em Miquéias 5:2.
Capítulo 1
“Nos dias em que os juízes administravam a justiça, houve uma fome no país. E um homem partiu de Belém, em Judá, para ir morar como estrangeiro nos campos de Moabe, ele com a esposa e os dois filhos. 2 O nome do homem era Elimeleque, o nome da sua esposa era Noemi, e os nomes dos seus dois filhos eram Malom e Quiliom. Eles eram efratitas de Belém de Judá. Chegaram aos campos de Moabe e ficaram morando lá.
3 Algum tempo depois morreu Elimeleque, marido de Noemi, e ficaram ela e os dois filhos. 4 Mais tarde, os homens se casaram com mulheres moabitas: uma se chamava Orpa e a outra se chamava Rute. Eles ficaram morando lá por cerca de dez anos. 5 Depois morreram também os dois filhos, Malom e Quiliom, e Noemi ficou sem os dois filhos e sem o marido. 6 Então ela e as suas noras partiram dos campos de Moabe, pois ela tinha ouvido falar em Moabe que Jeová havia voltado a atenção para seu povo, dando-lhes pão.
7 Ela deixou o lugar onde morava com as suas duas noras. Enquanto caminhavam pela estrada para voltar à terra de Judá, 8 Noemi disse às suas noras: “Voltem, cada uma à casa da sua mãe. Que Jeová lhes demonstre amor leal, assim como vocês fizeram aos seus maridos que morreram e a mim. 9 Que Jeová permita que cada uma de vocês encontre segurança no lar de um marido.” Então as beijou, e elas começaram a chorar alto. 10 E elas lhe diziam: “Não! Nós iremos com a senhora para o seu povo.” 11 Mas Noemi disse: “Voltem, minhas filhas. Por que vocês deveriam ir comigo? Será que ainda posso dar à luz filhos que se tornariam seus maridos? 12 Voltem, minhas filhas. Voltem, pois estou velha demais para me casar. Mesmo que eu tivesse esperança de encontrar um marido hoje à noite e pudesse ter filhos, 13 vocês ficariam esperando por eles até que crescessem? Ficariam sem se casar à espera deles? Não, minhas filhas. Estou muito amargurada de ver vocês nesta situação, pois a mão de Jeová se voltou contra mim.”
14 Elas choraram alto de novo, e depois Orpa beijou sua sogra e partiu. Mas Rute insistiu em ficar com ela. 15 Assim, Noemi disse: “Veja, a sua cunhada voltou ao seu povo e aos seus deuses. Volte com a sua cunhada.”
16 Mas Rute disse: “Não insista comigo para abandoná-la, para deixar de acompanhá-la; pois, aonde a senhora for, eu irei, e onde a senhora passar a noite, eu passarei a noite. Seu povo será o meu povo, e seu Deus será o meu Deus. 17 Onde a senhora morrer, eu morrerei e lá serei enterrada. Que Jeová me castigue, e que o faça severamente, se outra coisa senão a morte me separar da senhora.”
18 Quando Noemi viu que Rute insistia em acompanhá-la, desistiu de tentar convencê-la. 19 E as duas seguiram viagem até que chegaram a Belém. Assim que chegaram a Belém, toda a cidade ficou agitada por causa delas, e as mulheres perguntavam: “Esta é Noemi?” 20 E ela dizia às mulheres: “Não me chamem de Noemi. Chamem-me de Mara, pois o Todo-Poderoso tornou minha vida muito amarga. 21 Eu tinha tudo quando fui, mas Jeová me fez voltar de mãos vazias. Por que me chamam de Noemi, se Jeová se opôs a mim e o Todo-Poderoso me causou calamidade?”
22 Foi assim que Noemi voltou dos campos de Moabe junto com Rute, sua nora moabita. Elas chegaram a Belém no início da colheita da cevada”.
Não há necessidade de voltar à estrutura histórica do livro bem descrito na introdução. A situação foi particularmente dramática para essas três mulheres, Noemi, Rute et Orpa. Enquanto Naomi tomou a decisão de retornar ao país, ou seja, a Belém de Judá, Rute e Orpa decidiram acompanhá-la. Não há dúvida de que tanto Rute, como Orpa, foram apegadas a Naomi. Enquanto Naomi decidiu sair, aquelas duas jovens poderiam, desde o início, permanecer em seu país de origem para poder se casar novamente.
Durante o retorno ao país, provavelmente no início da viagem, Naomi teve que ficar embaraçada com a situação. De fato, ela pensava no futuro dessas duas jovens e no fato de que elas a acompanharam em sua dramática situação. Aqui está o que ela disse: « Noemi disse às suas noras: “Voltem, cada uma à casa da sua mãe. Que Jeová lhes demonstre amor leal, assim como vocês fizeram aos seus maridos que morreram e a mim. Que Jeová permita que cada uma de vocês encontre segurança no lar de um marido.” Então as beijou, e elas começaram a chorar alto. E elas lhe diziam: “Não! Nós iremos com a senhora para o seu povo”” (versículos 8 e 9). Naomi pedia a Rute e Orpa de não seguir de acompanhá-la, acrescentando uma bênção para suas duas noras. No começo, eles recusaram categoricamente: « Então as beijou, e elas começaram a chorar alto. E elas lhe diziam: “Não! Nós iremos com a senhora para o seu povo” » (versículo 10). Noemi não queria infligir um futuro triste ao seu lado, como viúva sem filhos e sem a possibilidade de ter descendentes.
É por isso que, com toda a sinceridade, e talvez com maior insistência, até firmeza, com argumentos mostrando que sua situação era desesperada, ela os repetiu para deixá-la voltar sozinha ao país: « Mas Noemi disse: “Voltem, minhas filhas. Por que vocês deveriam ir comigo? Será que ainda posso dar à luz filhos que se tornariam seus maridos? Voltem, minhas filhas. Voltem, pois estou velha demais para me casar. Mesmo que eu tivesse esperança de encontrar um marido hoje à noite e pudesse ter filhos, vocês ficariam esperando por eles até que crescessem? Ficariam sem se casar à espera deles? Não, minhas filhas. Estou muito amargurada de ver vocês nesta situação, pois a mão de Jeová se voltou contra mim”” (versículos 11-13).
Naomi pensava sinceramente no futuro dessas duas jovens que ainda tinham uma vida inteira na frente. Ela absolutamente não queria estragar o futuro delas com uma vida triste ao seu lado. Finalmente, Orpa levou em consideração os argumentos de Noemi, ela voltou para Moabe (versículo 14). Mas Rute insistiu teimosamente para ficar com Noemi, concordando em assumir todas as circunstâncias desfavoráveis de sua decisão de acompanhá-la: « Assim, Noemi disse: “Veja, a sua cunhada voltou ao seu povo e aos seus deuses. Volte com a sua cunhada”” (versículo 15). Noemi insistiu uma terceira vez, talvez sugerindo a ela que fosse « razoável » e fazer como sua cunhada, retornando a um país de sua mesma cultura e com um deus conforme sua tradição. No entanto, Rute persistiu em sua decisão de viajar com sua sogra: « Mas Rute disse: “Não insista comigo para abandoná-la, para deixar de acompanhá-la; pois, aonde a senhora for, eu irei, e onde a senhora passar a noite, eu passarei a noite. Seu povo será o meu povo, e seu Deus será o meu Deus. Onde a senhora morrer, eu morrerei e lá serei enterrada. Que Jeová me castigue, e que o faça severamente, se outra coisa senão a morte me separar da senhora” » (versículos 16,17). Noemi não respondeu, enquanto Rute a seguia dum passo determinado (versículo 18)…
É um exemplo ótimo de lealdade nas tribulações da vida… Rute ilustrou duma maneira bonita de que a lealdade é sublimada não quando as coisas estão bem, mas quando há problemas sérios… Rute permaneceu fielmente ao lado de sua sogra que não parecia ter um futuro feliz pela frente… Jesus Cristo dirá mais tarde que o amor verdadeiro, se ve nas circunstâncias desfavoráveis da vida (Mateus 5:43-48). A continuação do relato parece indicar que Elimeleque, o marido falecido de Noemi, era um homem bem conhecido em Belém de Judá, porque quando chegaram, está escrito « Assim que chegaram a Belém, toda a cidade ficou agitada por causa delas » (Versículo 19).
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No capítulo 2, lemos que Boaz era um homem eminente e muito rico, da família Elimeleque. Ele se tornará a chave duma reversão feliz para Noemi e Rute:
Capítulo 2
“Noemi tinha um parente muito rico por parte do seu marido. O nome dele era Boaz, e ele era da família de Elimeleque.
2 Rute, a moabita, disse a Noemi: “Por favor, deixe que eu vá ao campo e respigue cereal atrás de alguém que me mostre favor.” Portanto, Noemi lhe disse: “Vá, minha filha.” 3 Então ela foi e começou a respigar no campo, atrás dos ceifeiros. Por acaso ela foi parar num campo que pertencia a Boaz, que era da família de Elimeleque. 4 Naquele momento, Boaz chegou de Belém e disse aos ceifeiros: “Jeová esteja com vocês.” E eles responderam: “Jeová o abençoe.”
5 Boaz perguntou então ao servo encarregado dos ceifeiros: “A que família essa moça pertence?” 6 O servo encarregado dos ceifeiros respondeu: “A moça é uma moabita que voltou com Noemi dos campos de Moabe. 7 Ela disse: ‘Por favor, posso respigar e recolher as espigas cortadas que forem deixadas para trás pelos ceifeiros?’ E ela ficou de pé desde que chegou esta manhã; só se sentou agora no abrigo, para descansar um pouco.”
8 Então Boaz disse a Rute: “Escute, minha filha. Não vá respigar em outro campo, nem vá para nenhum outro lugar. Fique perto das minhas servas. 9 Fique atenta ao campo que ceifarem e vá com elas. Dei ordem aos servos para que não toquem em você. Quando estiver com sede, vá até os jarros e beba a água que os servos tirarem.”
10 Em vista disso, ela se prostrou com o rosto por terra e lhe perguntou: “Como é que eu achei favor aos seus olhos, e por que o senhor reparou em mim, se eu sou uma estrangeira?” 11 Boaz lhe respondeu: “Contaram-me tudo o que você fez por sua sogra depois da morte do seu marido, e que você deixou seu pai, sua mãe e a terra dos seus parentes, e veio morar com um povo que não conhecia. 12 Que Jeová a recompense pelo que você tem feito e que haja para você um salário perfeito da parte de Jeová, o Deus de Israel, debaixo das asas de quem você veio buscar refúgio.” 13 Então ela disse: “Que eu ache favor aos seus olhos, meu senhor, visto que me consolou e falou de um modo que tranquilizou esta sua serva, embora eu nem seja uma das suas servas.”
14 Na hora da refeição, Boaz lhe disse: “Venha comer pão e mergulhe seu pedaço no vinagre.” Então ela se sentou junto aos ceifeiros, e ele lhe ofereceu cereal torrado. Ela comeu e ficou satisfeita, e ainda sobrou. 15 Quando ela se levantou para respigar, Boaz ordenou aos seus servos: “Deixem que ela respigue entre as espigas cortadas, e não a incomodem. 16 Além disso, tirem algumas espigas dos feixes e deixem-nas para trás, para que ela as respigue, e não digam nada para impedi-la.”
17 Assim, ela continuou a respigar no campo até anoitecer. Depois bateu o que tinha respigado, e deu cerca de uma efa de cevada. 18 Então apanhou a cevada e entrou na cidade, e sua sogra viu o que ela tinha respigado. Rute também pegou o alimento que havia sobrado depois da refeição, quando comeu e ficou satisfeita, e o deu a ela.
19 Sua sogra disse-lhe então: “Onde você respigou hoje? Onde você trabalhou? Abençoado seja aquele que reparou em você.” Assim, ela falou à sua sogra sobre a pessoa com quem tinha trabalhado: “O nome do homem com quem trabalhei hoje é Boaz.” 20 Noemi disse então à sua nora: “Seja ele abençoado por Jeová, que não falhou em demonstrar amor leal para com os vivos e os mortos.” E Noemi acrescentou: “O homem é nosso parente. Ele é um dos nossos resgatadores.” 21 Então Rute, a moabita, disse: “Ele me disse também: ‘Fique perto dos meus servos até que tenham terminado toda a minha colheita.’” 22 Assim, Noemi disse a Rute, sua nora: “Minha filha, é melhor você acompanhar as servas dele do que ser incomodada em outro campo.”
23 Assim, ela ficou perto das servas de Boaz e respigou até o fim da colheita da cevada e da colheita do trigo. E ela continuou morando com a sua sogra”.
Existem várias informações que serão examinadas na ordem do relato do capítulo 2. A prática de respigar ou rebuscar era uma provisão misericordiosa da Lei Mosaica para os pobres: « Quando for feita a colheita da sua terra, não colha completamente a extremidade do seu campo nem apanhe as sobras da sua colheita. Além disso, não recolha as sobras do seu vinhedo nem apanhe as uvas espalhadas do seu vinhedo. Você deve deixá-las para o pobre e para o residente estrangeiro. Eu sou Jeová, seu Deus » (Levítico 19:9,10). « Quando você fizer a colheita do seu campo e tiver esquecido um feixe no campo, não volte para apanhá-lo. Deixe-o para o residente estrangeiro, o órfão e a viúva, para que Jeová, seu Deus, abençoe você em tudo que você fizer. Quando você bater os galhos da sua oliveira, não repita o processo. O que restar deve ficar para o residente estrangeiro, o órfão e a viúva. Quando você colher as uvas do seu vinhedo, não deve voltar para colher as sobras. Elas devem ser deixadas para o residente estrangeiro, o órfão e a viúva. Lembre-se de que você se tornou escravo na terra do Egito. É por isso que lhe dou essa ordem » (Deuteronômio 24:19-22).
No versículo 3, está escrito que Rute foi a respigar no campo de Boaz « por acaso ». É muito possível que esse simples « acaso » era de fato uma providência divina, ou a mão de Jeová Deus que a guiava nesse campo a rebuscar, segundo Noemi (versículo 20). O versículo 4 mostra que Boaz era um homem piedoso, apegado a Deus: « Naquele momento, Boaz chegou de Belém e disse aos ceifeiros: “Jeová esteja com vocês.” E eles responderam: “Jeová o abençoe” ». Boaz chegou a ver a jovem Rute. Talvez a presença dessa jovem com aparência delicada, entre os ceifeiros, parecia incomum, porque a colheita da cevada e do trigo é uma tarefa que requer muita resistência, sob o sol (versículo 5).
O relato revela outra qualidade de Boaz, a bondade e a benevolência (versículos 8 e 9). No versículo 8, Boaz se dirigiu a Rute chamando-a de « minha filha », o que mostra que não apenas Rute era uma jovem, mas também que Boaz era um homem maduro (compare com o versículo 2). Podemos observar a humildade e o agradecimento de Rute em relação a Boaz (versículo 10). Boaz explicou a Rute que sua boa reputação havia alcançado seus ouvidos, porque cuidava de sua sogra Noemi (versículos 11,12). A bênção de Boaz escrita no versículo 12 é muito bonita: « Que Jeová a recompense pelo que você tem feito e que haja para você um salário perfeito da parte de Jeová, o Deus de Israel, debaixo das asas de quem você veio buscar refúgio ». Rute era realmente uma mulher corajosa e perseverante. Não apenas, após ceifar a cevada no final do dia, ela a batia e colocava o que tinha respigado num saco de cerca de vinte quilos e retornava na casa de Noemi (versículo 17). Esse trabalho durou várias semanas, até vários meses (versículo 23).
No versículo 20, está escrito que Noemi informou Rute que Boaz era um de seus « resgatadores ». Era outra provisão misericordiosa da Lei Mosaica em relação a um falecido que morria sem ter deixado descendentes, o que de fato interrompia sua linhagem familiar. Era a lei do casamento levirato ou casamento de cunhado: « Se irmãos morarem juntos e um deles morrer sem deixar filho, a esposa do que morreu não deve se casar com alguém de fora da família. Seu cunhado deve ir a ela, tomá-la como esposa e realizar com ela o casamento de cunhado. O primogênito que ela der à luz perpetuará o nome do irmão falecido, para que o nome dele não seja apagado de Israel » (Deuteronômio 25:5,6). Elimeleque e seus dois filhos morreram sem deixar descendentes, de modo que sua descendência era condenada a desaparecer definitivamente. A disposição misericordiosa nessa situação era o casamento levirato que permitia, com o primeiro filho nascido desse casamento, que pudesse continuar a linhagem do falecido que não tinha descendentes. Assim, por meio desse « resgate », a linhagem e o nome de Elimeleque podia continuar como um descendente. Boaz, por providência divina, era um desses resgatadores.
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É óbvio que a luz duma esperança brilhava no coração de Noemi. Ela não demorou muito, sendo uma mulher sábia, para tomar providências para se beneficiar dessa lei divina misericordiosa:
Capítulo 3
“Noemi, sua sogra, disse-lhe então: “Minha filha, preciso procurar um lar para você, para que você fique bem. 2 Boaz é nosso parente. Foi com as servas dele que você esteve. Hoje à noite ele vai limpar cevada na eira. 3 Portanto lave-se, passe óleo perfumado, vista a sua melhor roupa e desça à eira. Não deixe que ele note a sua presença até que ele tenha terminado de comer e beber. 4 Quando ele for dormir, preste atenção ao lugar onde ele se deita. Então vá, descubra os pés dele e deite-se. E ele lhe dirá o que fazer.”
5 Ela respondeu então: “Farei tudo o que a senhora me disse.” 6 Então ela desceu à eira e fez tudo o que a sua sogra lhe tinha dito. 7 Enquanto isso, Boaz comia e bebia, e seu coração estava feliz. Então ele foi se deitar na beirada do monte de cereais. Depois ela se aproximou com cuidado, descobriu os pés dele e se deitou. 8 À meia-noite, o homem começou a tremer e, quando se inclinou para frente, viu uma mulher deitada aos seus pés. 9 Ele perguntou: “Quem é você?” Ela respondeu: “Sou Rute, sua serva. Estenda o seu manto sobre a sua serva, pois o senhor é resgatador.” 10 Então ele disse: “Que Jeová a abençoe, minha filha. Você demonstrou mais amor leal desta vez do que da primeira vez, pois você não foi atrás de jovens, quer pobres quer ricos. 11 E agora, minha filha, não tenha medo. Farei para você tudo o que me diz, pois todos na cidade sabem que você é uma excelente mulher. 12 Mas, embora eu realmente seja resgatador, há um resgatador de parentesco mais próximo do que eu. 13 Fique aqui esta noite. Se de manhã ele a resgatar, muito bem! Que ele a resgate. Mas, tão certo como Jeová vive, eu mesmo a resgatarei se ele não quiser resgatá-la. Fique deitada aqui até amanhecer.”
14 Assim, ela ficou deitada aos pés dele até de manhã e se levantou antes que estivesse claro o suficiente para ser reconhecida. Então ele disse: “Ninguém deve saber que uma mulher veio à eira.” 15 E também disse: “Traga o manto que você está usando e segure-o aberto.” Assim, ela o segurou, e ele colocou nele seis medidas de cevada e o pôs sobre ela; depois ele entrou na cidade.
16 Ela voltou à sua sogra, que lhe perguntou: “Como foi, minha filha?” Rute lhe contou tudo o que o homem tinha feito por ela. 17 Ela acrescentou: “Ele me deu estas seis medidas de cevada e disse: ‘Não vá de mãos vazias à sua sogra.’” 18 Então ela disse: “Agora espere, minha filha, até saber como ficará o assunto, pois o homem não descansará até resolver o assunto hoje””.
Depois que Rute disse a Boaz que ele era um resgatador potencial, ficou muito emocionado porque ela tinha um bom coração, particularmente em relação a Noemi e seu falecido marido Elimeleque, a fim de permitir que ele tivesse um descendente por meio dum casamento levirato. Boaz sabia que ele era muito mais velho do que Rute, por isso apontou para ela que sua gentileza de coração se manifestava também em aceitar esse casamento, e não com um marido mais jovem (versículo 10). No entanto, podemos ver também que Boaz era um homem com o coração direito. Ele informou a Rute que não era um resgatador de parentesco mais próximo, e que, portanto, era seu dever de notificar a pessoa em questão, a fim de usar primeiro seu direito como resgatador. É apenas no caso duma recusa desse resgatador, que ele poderia se casar com Rute com um casamento levirato.
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De manhã cedo, Boaz se apressou em apresentar o caso a esse parente próximo, chamado no texto « Fulano »:
Capítulo 4
“Boaz subiu até o portão da cidade e se sentou ali. Quando o resgatador que Boaz havia mencionado ia passando, Boaz disse: “Fulano, venha e sente-se aqui.” Ele foi e se sentou. 2 Então Boaz chamou dez anciãos da cidade e disse: “Sentem-se aqui.” E eles se sentaram.
3 Boaz disse então ao resgatador: “Noemi, que voltou dos campos de Moabe, tem de vender o campo que pertencia ao nosso irmão Elimeleque. 4 Então achei que devia informá-lo do assunto e lhe dizer: ‘Compre-o diante dos que moram aqui e dos anciãos do meu povo. Se você for resgatá-lo, resgate-o. Mas, se não for resgatá-lo, diga-me para que eu saiba, pois você tem o direito de resgate, e eu venho depois de você.’” Ele respondeu: “Estou disposto a resgatá-lo.” 5 Então Boaz disse: “No dia em que você comprar o campo de Noemi, tem de comprá-lo também de Rute, a moabita, esposa do falecido, para restaurar o nome dele sobre a sua herança.” 6 Diante disso, o resgatador disse: “Não posso resgatá-lo, para que eu não arruíne a minha própria herança. Resgate-o para você com o meu direito de resgate, porque eu não posso resgatá-lo.”
7 Nos tempos antigos, o costume em Israel relacionado com o direito de resgate e com a transferência, para validar todo tipo de transação, era o seguinte: o homem tinha de tirar a sandália e dá-la ao outro, e assim se confirmava um acordo em Israel. 8 Portanto, ao dizer a Boaz: “Compre-o para você”, o resgatador tirou a sandália. 9 Boaz disse então aos anciãos e a todo o povo: “Vocês são hoje testemunhas de que estou comprando de Noemi tudo o que pertencia a Elimeleque, e tudo o que pertencia a Quiliom e a Malom. 10 E assim adquiro como esposa Rute, a moabita, que era esposa de Malom, a fim de restaurar o nome do falecido sobre a sua herança e para que o nome dele não seja eliminado dentre os seus irmãos e do portão da sua cidade. Vocês são hoje testemunhas.”
11 Em vista disso, todo o povo que estava no portão da cidade e os anciãos disseram: “Somos testemunhas! Que Jeová conceda à esposa que entra na sua casa ser igual a Raquel e a Leia, que edificaram a casa de Israel. Que você prospere em Efrata e faça um bom nome em Belém. 12 E que, por meio da descendência que Jeová lhe dará dessa moça, a sua casa se torne igual à casa de Peres, que Tamar deu à luz a Judá.”
13 Assim, Boaz tomou Rute e ela se tornou sua esposa. Ele teve relações com ela, e Jeová permitiu que ela engravidasse e desse à luz um filho. 14 Então as mulheres disseram a Noemi: “Louvado seja Jeová, que hoje não a deixou sem um resgatador. Que o nome dele seja proclamado em Israel! 15 Ele revigorou a sua vida e vai ampará-la na sua velhice, pois é filho da sua nora, que a ama e é para você melhor do que sete filhos.” 16 Noemi pegou o menino e o segurou no colo, e passou a cuidar dele. 17 Então as vizinhas lhe deram um nome. Elas disseram: “Nasceu um filho para Noemi”, e o chamaram de Obede. Ele é o pai de Jessé, pai de Davi.
18 Esta é a linhagem de Peres: Peres tornou-se pai de Esrom, 19 Esrom tornou-se pai de Rão, Rão tornou-se pai de Aminadabe, 20 Aminadabe tornou-se pai de Nasom, Nasom tornou-se pai de Salmom, 21 Salmom tornou-se pai de Boaz, Boaz tornou-se pai de Obede, 22 Obede tornou-se pai de Jessé, e Jessé tornou-se pai de Davi”.
Ao ler o relato, entendemos melhor porque o indivíduo que se recusou a se casar com Rute para não « arruinara sua própria herança », fosse chamado de « Fulano ». A desculpa deste homem era péssima. Além disso, para Jeová Deus, essa atitude vergonhosa era o suficiente para permitir que a viúva não resgatada, de tirar uma sandália dele e lhe cuspir no rosto: « Se o homem não quiser se casar com a viúva do seu irmão, então a viúva deve ir até os anciãos no portão da cidade e dizer: ‘O irmão do meu marido se negou a preservar o nome do seu irmão em Israel. Não quis realizar comigo o casamento de cunhado.’ Os anciãos da cidade dele devem chamá-lo e falar com ele. Se ele insistir e disser: ‘Não quero me casar com ela’, então a viúva deve se aproximar dele diante dos anciãos, tirar a sandália do pé dele, lhe cuspir no rosto e dizer: ‘Isso é o que se deve fazer ao homem que não edificar a família do seu irmão.’ Depois disso, o nome da família dele será conhecido em Israel como ‘A casa daquele de quem se tirou a sandália’ » (Deuteronômio 25:7-10). No entanto, não foi isso que Rute fez, porque felizmente ela tinha um segundo resgatador, o homem Boaz.
É no final deste livro bíblico que percebemos que esse relato histórico tem não apenas um valor anedótico. Assim, o livro de Rute explica o importante papel do casamento levirato em relação à linhagem que levava ao rei Davi e mais tarde, ao homem Jesus Cristo (Mateus 1:1-16; Lucas 3:23-38). Em Mateus 1:5, está escrito que a mãe de Boaz era Raabe, a mulher corajosa que salvou a vida dos dois espiões em Jericó (Josué Capítulo 2). Logicamente, a história do livro de Rute ocorreu após a morte de Josué, e deve ser sob a governança do juiz Otniel, sobrinho de Caleb (juízes 1:13). É certo que aquelas mulheres corajosas e fiéis do passado, Raabe e Rute, não sabiam que Jeová Deus permitiria que seus nomes cruzassem os séculos em memória de sua fidelidade, aparecendo na linhagem que leva ao Cristo. Além disso, o nome dum livro bíblico de Rute aparece no cânone das Escrituras. É durante a ressurreição delas que saberão como Jeová foi bom para a memória de seu nome, em virtude de sua coragem e seu amor fiel (Atos 24:15).
O final feliz da história do livro da Rute é um incentivo para aqueles que se enfretam a diversas provações, como foi o caso de Naomi e Rute. Como o escreveu o discípulo Tiago, sobre o resultado feliz para o fiel Jó, que pode se aplicar a Noemi e Rute: « Não resmunguem uns contra os outros, irmãos, para que não sejam julgados. Vejam! O Juiz está às portas. Irmãos, no que se refere a suportar sofrimentos e a exercer paciência, tomem como modelo os profetas, que falaram em nome de Jeová. Vejam, consideramos felizes os que perseveraram. Vocês ouviram falar da perseverança de Jó e viram o resultado que Jeová proporcionou; viram que Jeová tem grande compaixão e é misericordioso » (Tiago 5:9-11).
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Raabe, uma mulher corajosa
Entrando na terra prometida, Josué, o sucessor de Moisés, enviou dois espiões para a cidade de Jericó. Enquanto foram vistos por soldados da cidade, eles foram se esconder na casa de Raabe. Aqui está o relato no livro bíblico de Josué, capítulo 2:
“Então Josué, filho de Num, enviou secretamente de Sitim dois homens como espiões. Ele lhes disse: “Vão e inspecionem a terra, especialmente Jericó.” Assim eles foram e chegaram à casa de uma prostituta chamada Raabe, e ficaram ali. 2 O rei de Jericó foi informado: “Homens israelitas vieram aqui esta noite para espionar a terra.” 3 Em vista disso, o rei de Jericó mandou dizer a Raabe: “Traga para fora os homens que vieram e que estão na sua casa, pois eles vieram para espionar toda a terra.”
4 Mas a mulher pegou os dois homens e os escondeu. Então ela disse: “É verdade, os homens vieram a mim, mas eu não sabia de onde eram. 5 Ao escurecer, quando o portão da cidade estava para ser fechado, os homens foram embora. Eu não sei para onde foram, mas, se vocês forem depressa atrás deles, os alcançarão.” 6 (Mas ela os tinha levado para o terraço e os tinha escondido entre as fileiras de hastes de linho que havia no terraço.) 7 Assim, os homens foram atrás deles em direção aos pontos de travessia do Jordão, e o portão da cidade foi fechado assim que os perseguidores saíram.
8 Antes de os espiões se deitarem para dormir, ela foi até eles no terraço. 9 Ela lhes disse: “Sei que Jeová lhes dará esta terra e que estamos com medo de vocês. Todos os habitantes desta terra estão desanimados por sua causa. 10 Pois soubemos como Jeová secou as águas do mar Vermelho diante de vocês quando saíram do Egito, e o que fizeram aos dois reis dos amorreus, Siom e Ogue, que vocês entregaram à destruição do outro lado do Jordão. 11 Quando soubemos disso, ficamos desanimados; perdemos a coragem por causa de vocês, pois Jeová, seu Deus, é Deus nos céus, em cima, e na terra, embaixo. 12 Agora, por favor, jurem-me por Jeová que, por eu ter demonstrado bondade para com vocês, vocês também demonstrarão bondade para com os da casa do meu pai. Deem-me um sinal de que agirão com boa-fé. 13 Poupem a vida do meu pai, da minha mãe, dos meus irmãos, das minhas irmãs e de todos os que lhes pertencem; e livrem-nos da morte.”
14 Diante disso os homens lhe disseram: “Daremos nossa vida pela vida de vocês! Se você não disser nada sobre a nossa missão, nós demonstraremos bondade e fidelidade para com você quando Jeová nos der a terra.” 15 A seguir, ela os fez descer por uma corda pela janela, pois a sua casa ficava num dos lados da muralha da cidade. Na verdade, ela morava no alto da muralha. 16 Então ela lhes disse: “Vão à região montanhosa e escondam-se lá por três dias, para que seus perseguidores não os encontrem. Depois que os perseguidores tiverem voltado, vocês podem seguir caminho.”
17 Os homens lhe disseram: “Estaremos livres de culpa por esse juramento que você nos impôs 18 se, quando entrarmos nesta terra, você não tiver amarrado esta corda de fio escarlate na janela pela qual nos fez descer. Você deve reunir na sua casa seu pai, sua mãe, seus irmãos e todos os da casa do seu pai. 19 Então, se alguém sair da sua casa para fora, o sangue dele recairá sobre a cabeça dele, e nós estaremos livres de culpa. Mas, se algo ruim acontecer a alguém que estiver na casa com você, o sangue dele recairá sobre a nossa cabeça. 20 Mas, se você denunciar a nossa missão, estaremos livres de culpa por esse juramento que nos impôs.” 21 Ela disse: “Seja segundo as suas palavras.”
Com isso ela os deixou ir embora, e eles seguiram caminho. Mais tarde ela amarrou a corda escarlate na janela. 22 Eles partiram para a região montanhosa e ficaram lá por três dias, até que os perseguidores voltassem. Os perseguidores os procuraram em todas as estradas, mas não os encontraram. 23 Os dois homens desceram então da região montanhosa, atravessaram o rio e foram até Josué, filho de Num. Eles lhe relataram todas as coisas que lhes havia acontecido. 24 Então disseram a Josué: “Jeová nos entregou toda esta terra. De fato, todos os habitantes desta terra estão desanimados por nossa causa””.
Em Josué capítulo 6:22-25, está escrito que Raabe e sua família foram salvos por ter sido corajosa escondendo os dois espiões: “Josué disse aos dois homens que tinham espionado a terra: “Entrem na casa da prostituta e tragam para fora tanto a ela como a todos os que lhe pertencem, assim como vocês lhe juraram.” Portanto, os jovens espiões entraram e trouxeram para fora Raabe junto com seu pai, sua mãe, seus irmãos e todos os que lhe pertenciam, sim, trouxeram para fora toda a sua família, e os levaram em segurança a um local fora do acampamento de Israel. Então queimaram com fogo a cidade e tudo o que havia nela. Mas a prata, o ouro, e os objetos de cobre e de ferro, entregaram ao tesouro da casa de Jeová. Apenas Raabe, a prostituta, os da casa do seu pai e todos os que lhe pertenciam foram poupados por Josué; e ela mora em Israel até hoje, porque escondeu os mensageiros que Josué tinha enviado para espionar Jericó”.
O apóstolo Paulo citou o exemplo de fé de Raabe, na carta aos Hebreus capítulo 11: « Pela fé caíram os muros de Jericó, depois que o povo marchou em volta deles por sete dias. Pela fé Raabe, a prostituta, não morreu com os que foram desobedientes, porque ela recebeu os espiões de modo pacífico » (Hebreus 11:30,31). Mais tarde, Raabe, será a mãe de Boaz, que se casará com Rute (um livro bíblico leva seu nome, o livro de Rute; Mateus 1:5).
O discípulo Tiago citou o exemplo de Raabe para ilustrar a ideia de que a fé deve ter obras para poder ser declarados justos por Deus: « Vejam que o homem será declarado justo por obras, e não apenas pela fé. Da mesma maneira, não foi também Raabe, a prostituta, declarada justa por obras, depois de receber os mensageiros hospitaleiramente e de mandá-los embora por outro caminho? Realmente, assim como o corpo sem espírito está morto, assim também a fé sem obras está morta » (Tiago 2:24-26).
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Por que Deus Permitiu o Sofrimento e a Maldade?
Ler e Entender a Bíblia (Salmos 1:2, 3)
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